quarta-feira, 19 de outubro de 2011

ACORDEMOS E INDIGNEMO-NOS, ANTES QUE SEJA TARDE!


Texto do Diácono António Poças, publicado no
Jornal João Semana de 15 de Outubro 

São tantas as surpresas desagradáveis, que pouco sobrará para nos espantar. Só mesmo o anúncio de uma epidemia semelhante à da peste negra: Encerramento de empresas, despedimentos, corte em áreas sensíveis como a saúde, a educação e a segurança, aumentos astronómicos nas despesas correntes (água, eletricidade e outros bens e serviços essenciais), corte nos salários, já de si exíguos em relação à maioria dos países do "el+do-(Euro)+ado" (leia-se "eldorado"), são apenas os estigmas essenciais da aflição que pouco a pouco destrói a estrutura social do País e o equilíbrio psicológico de cada um. Que mais nos espera?
O tal "Eldorado" - que soa a Euro - afinal não tem nada de solidário, e parece ter-se transformado, não obstante as boas intenções dos fundadores da U.E., num feudo de três ou quatro grandes países que consolidaram as suas economias à custa dos mais débeis, a quem sacrificaram os meios nacionais de produção (agricultura, pescas, produção industrial, etc.) para engordarem as suas cada vez mais prósperas economias e sistemas de produção. Hoje, a poderosa Alemanha (nunca aprendemos com a História!) domina e interfere. Acompanhada mais discretamente pela França, impõe aos outros países o "dictat" das políticas sempre que lhe convém.
Até há pouco, estas clepto(motivas) colossais deixavam escapar algumas frases curtas sobre a possibilidade de tirar o tapete aos países incumpridores (entenda-se Grécia, Portugal e, logo mais, a Espanha, a Irlanda e outros...), e de nos obrigarem a sair do Euro. Agora vêm dizer que é preciso salvar a moeda única. Porquê esta mudança de atitude? Ainda faltará extorquir mais em juros de empréstimos para nos retirar da crise ou prolongar a nossa infausta agonia?
A experiência amarga vai-nos dizendo que é preciso desconfiar da magnanimidade destes próceres gananciosos que só veem o interesse dos seus eleitores e pouco se interessam com as nossas aflições, sobretudo quando ameaçamos os seus irrenunciáveis ganhos usurários. Essa gente habituou-se a viver bem, e não abdica dos seus lucros faustosos, custe a quem custar, doa a quem doer...


Sabemos, agora, que alguns políticos caseiros, eternizados no poder e na fanfarronice bacoca e carnavalesca, ditadores e palhaços disfarçados de democratas, têm gasto com despudor e impunidade, sem que aconteça o que a justiça reclamaria, aquilo que pertence ao sacrifício e às renúncias mais ou menos forçadas de todos os portugueses. Escorados em argumentos confusos de leis aprovadas por correligionários da sua cor ou coniventes com o "SPC" (Sistema Político em Curso), gastam o que não existe, na serena paz e tranquilidade de que outros pagarão as contas dos seus desmandos.
De buraco em buraco, de desfaçatez em desfaçatez, já temos o direito de suspeitar (para gravíssimo mal dos pecados alheios) que a crise pode ser bem maior do que aquilo que parece, e que nos competirá (não tenhamos ilusões) pagar as faturas da ingovernação e dos abusos externos e caseiros, já que a culpa destes      senhores perdulários (eu acrescentaria criminosos descarados) morrerá solteira.
Quanto a mim, apetecia-me comprar um apartamento luxuoso (no Algarve, nas ilhas Faroé, no plácido Havai ou noutro lugar frequentado pelo "jet-set" mundial - exceto na Pérola do Atlântico, que isso pode ser perigoso -, um ou dois Ferraris, um jato particular, mobílias extravagantes para a minha casa, e, depois, não pagar nada, porque os vizinhos, amigos e inimigos pagariam a fatura que eu lhes mandaria enviar, sem possibilidade de recusarem. Afinal comem todos, ou a moral idade é só para alguns?
Assim vai o nosso País. E isto, infelizmente, não é nenhuma parábola, é a realidade.
Acordemos e indignemo-nos, antes que seja tarde!