São louváveis todas as iniciativas que tenham a finalidade de ajudar as vítimas da crise que o nosso País atravessa. Mas a propósito da iniciativa da Noite Solidária promovida pela C. M. de Ovar, à qual aderiram diversas instituições de Solidariedade Social, penso que este evento não deveria estar inserido no Ano Europeu de Combate à Pobreza e Exclusão Social.
Passo a explicar o porquê deste meu raciocínio. Se consultarmos o Dicionário, lemos lá qual é o significado da palavra Combate, e depois poderemos analisar que esta palavra não deveria ter sido utilizada para mais este "Slogan Europeu". É que não se compreende que haja um Combate promovido por uma classe política de bem instalados, que ao longo de vários anos tem praticado políticas que têm levado a um aumento da pobreza e exclusão social, e que eles agora dizem combater.
Os cidadãos mais esclarecidos sabem que as políticas são elaboradas e aprovadas no Parlamento Europeu e no caso de Portugal, na Assembleia da República. Pessoalmente tenho dificuldade em aceitar que haja pessoas (directa ou indirectamente) causadoras da crise, e agora estejam nas fileiras de um hipotético Combate.
Se for retirada a palavra Combate, será sempre, ajuda às vítimas da crise que alguns dos promotores ajudaram a provocar. O Slogan "Luta para a Erradicação da Pobreza" é o mais apropriado. E com pessoas que tenham esses ideais.
Ao longo destes 46 anos de cidadania e militância cristã na Igreja Católica sempre apreciei e admirei as pessoas com coragem de, nas suas funções políticas ou religiosas, denunciarem as injustiças sociais. Não tenho o mesmo apreço pelos que, por falta de coragem, são omissos, e pouco ajudam ao crescimento da pessoa humana com todos os seus direitos que a Constituição Portuguesa consagra.
António Mendes Pinto
(publicado no Jornal PRAÇA PÚBLICA em 7 de Julho de 2010