Job é um nome que habitualmente se dá a uma pessoa que sofre. com muita pa- ciência. Mas este nome está na Bíblia desde há milhares de anos. Falar desta figura antiga é falar de todos quantos sofrem, seja homem, mulher ou criança.
As crianças também. É injusto ficar indiferente face aos condicionalismos sociais de que são vítimas. Assim como também as pessoas que vão sendo lançados no desemprego. E os muitos imigrantes que se vêm explorados. Todo são ‘Job’. E também os idosos, em especial os que têm de sobreviver com pensões simbólicas. Quantos deles a precisarem de as deixar por inteiro na farmácia! Há tantos países em que os idosos não têm que pagar nada (ou quase nada) por medicamentos prescritos. Será justo este sistema da nossa sociedade que se diz cívica?
Quem terá a coragem de questionar as rotinas e estruturas que fomentam as situações de injustiças sociais? Por que será que não se criam ou não funcionam mecanismos eficazes para defender e promover os mais débeis da sociedade? Não só as crianças. São todos os marginalizados dos sistemas desumanos que imperam na sociedade. Penso que até era mais rendoso para o sistema capitalista... Era mais gente com poder de compra e motivações de consumo! Mas não é o lucro do capital que me inquieta, são as pessoas e as próprias condições legítimas de vida, cultura e desenvolvimento espiritual a que têm direito. Como Jobs do nosso tempo. Como pessoas que são.
António Mendes Pinto
(publicado no Jornal TRIBUNA PRESS em 2004