Os problemas sociais graves - e o desemprego é um deles - não se modificam só com gestos de generosidade. Estes, por mais bonitos que sejam, não chegam. São passageiros. Ao passo que a necessidade, essa é permanente.
Analisemos uma situação:
As empresas são obrigadas a fazer um desconto, no recibo do salário, para o Fundo de Desemprego, para que durante alguns meses o desempregado aufira de uma percentagem do ordenado que recebia.
Mas até neste sector há injustiças. Por exemplo, um sócio-gerente tem, como os empregados, de fazer esse desconto, mas quando a Firma, por razões conjunturais, deixa de laborar, os empregados auferem do subsídio de desemprego, enquanto o gerente, que também contribuiu com os seus descontos e também fica na situação de desemprego, esse não tem o mesmo direito! Esta descriminação, para além de ser injusta, é um roubo da Instituição Estatal!
Mas voltando ao flagelo do desemprego: há desempregados que, de tão desesperados com a sua situação, deixaram definhar a imagem da sua dignidade.
Ao entrarem por esse caminho terão ainda capacidade interior para corresponderem aos deveres de uma profissão? E terão ainda alguma aspiração na vida que lhes dê apetência para o trabalho? Ainda que hipótese improvável no estado actual do país - lhes aparecesse um emprego, iriam ter assiduidade e rendimento no trabalho?
Dizem que a "dor da fome" pode levar um homem a todos os extremos.
A fome é má conselheira. Felizmente, a grande maioria de nós não faz ideia do que isso é. Mas vai havendo quem saiba. E cada vez mais!...
Quem poderá avaliar os custos de tudo isto? E não é só a questão da subsistência quotidiana. Tem sido muita miopia não ver senão o lado material da trajectória do país. Então as pessoas já não contam? E as famílias, o ambiente familiar e a orientação dos filhos na vida? Não é com "jogos" (e sem "pão") que estas questões se resolvem. Mas quem se preocupa realmente com tudo isto?
António Mendes Pinto
(Adaptação de um texto da revista "Mensageiro de Santo António" e publicado no Jornal JOÃO SEMANA em Fevereiro 2004)