segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Desigualdade de oportunidades - 2007

Ao ler o corajoso edito­rial do Sr. Director na edição de 29 de Março deste sema­nário, acerca do tema que a Comissão Europeia dedicou para este ano 2007, com o utópico slogan "Igualdade de oportunidades", resolvi libertar-me do "temor do desagrado" e decidi escre­ver algumas linhas para ex­pressar a minha incredulida­de acerca do tema.
Compreendo perfeita­mente a preocupação do autor do editorial porque vê no tema um sinal de que al­guma coisa vai mal.
O tema é tão sério que me atrevo a fazer esta afir­mação: se os políticos portu­gueses que têm tido respon­sabilidades governativas tivessem dignidade, não di­vulgariam o tema. É que na prática, ao longo destes anos em que Portugal faz parte da Comunidade Euro­peia a prática é dar opor­tunidades a quem menos precisa, proporcionando au­mentos de riqueza a uns, e recusar a quem mais preci­sa, não dando oportunidades a que cada cidadão possa mostrar as suas capacidades criativas e produtivas.
Um país onde o factor oportunidades se centraliza muito na aplicação de avulta­das verbas para empresas fictícias e favores políticos, é um país sem identidade para divulgar a igualdade de opor­tunidades.
Num colóquio que fez par­te das Comemorações dos 50 anos da União Europeia, al­guém disse que Portugal po­deria estar comparado com a Finlândia se tivesse sabido utilizar os subsídios que rece­beu, utilizando o termo cor­rupção com causa da situa­ção actual.
Na minha opinião, e pela minha experiência profissio­nal e empresarial, (tratado de forma desigual, desde o 25 de Abril de 1974), atrevo-me a fazer outra afirmação: se os já citados políticos portugue­ses tivessem agido com dig­nidade e competência após a entrada na Comunidade Eu­ropeia, pondo em prática o lema da igualdade de opor­tunidades, creio que Portugal hoje não sofreria dos males de que padece.
É certo que o editorial que me incentivou a escrever es­tas linhas, abrange com cora­gem e justiça várias áreas sociais, mas eu fico-me ape­nas na área dos incentivos às micro empresas produtivas, as quais, ao longo destas três décadas, têm sido tratadas com desigualdade de oportuni­dades.
Embora incrédulo, fico à espera para ver se esta Cam­panha Europeia, em Portu­gal, e aqui em Ovar, não pas­sa de mais uma mera cam­panha de marketing e publi­cidade, a que os políticos já nos habituaram. Bem, ao menos sempre fica uma in­dústria a lucrar com estas iniciativas. A indústria grá­fica, da publicidade e todos os seus componentes mate­riais e humanos. Mas se tudo não passasse de utopia e fosse levado à prática, mui­tos cidadãos da Europa e de Portugal, que têm vontade de trabalhar, sairiam benefi­ciados.

                                           António Mendes Pinto

                            (publicado no Jornal de Ovar em 2007)