segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Um Natal sem Paz para muitos - 2007

Quem olhar para a frontaria da Igreja Matriz de Ovar vê uma faixa que diz: "Amar e servir os irmãos é acolher Jesus que vem". É uma mensagem escolhida pelo Secreta­riado da Catequese para o tempo do Advento (um dos tempos fortes do ano eclesial).
O Advento fala-nos da vinda escatológica de Jesus. Um Jesus que nos sai ao encontro em cada dia da nossa vida, de muitas formas distin­tas e por caminhos sempre diferentes. Viver em atitude de Advento é viver vigilantes, em alerta, saber descobrir Jesus nesses caminhos e fazê-lo nas­cer, crescer e ser adulto na nossa vida pessoal, na nossa comunidade e no mundo.
A mensagem que se lê na citada faixa deve ser entendida, antes de mais, pelo testemunho. Suponhamos um cristão ou um punhado de cristãos que, no seio da comunidade em que vivem, manifestam a sua capa­cidade de compreensão e de acolhimento, a sua comunhão de vida e de destino com os demais, a sua soli­dariedade nos esforços de todos para tudo aquilo que é nobre e bom.
Assim, eles irradiam, dum modo absolutamente simples e espontâneo, a sua fé em valores que estão para além dos valores correntes (materia­listas e capitalistas) e a sua esperança em qualquer coisa que se não vê e que não se seria capaz sequer de imaginar.
O tempo que vivemos é um tempo no qual é necessário muita coragem para se viver em atitude de testemunho duma fé com auten­ticidade e vida. É um tempo no qual está espalhado o temor do desagrado e as pessoas têm medo de falar.
É mais fácil notar-se e apontar­-se as falhas e os erros dos outros, do que as boas acções que os mes­mos possam ter. E a tendência é mais para reparar nas imperfeições dos outros e menos para compreender e ajudar a que os mesmos se aperfei­çoem. E é mais fácil censurar e condenar os que cometem erros e até crimes, do que denunciar e apro­fundar as causas que provocam e conduzem ao erro e ao crime.
E isto de aprofundar as causas, os governantes e políticos do nosso país têm-se mostrado pouco interessados. É que ir às causas levanta questões que não agradam a muitos!
É que o Natal é mais sentido comercialmente e até solidariamente, mas esta solidariedade, todos os anos, se reporta apenas a esta época. Mas o sentido do Natal proposto na refle­xão do texto, tem a ver com uma solidariedade efectiva e sólida, basea­da na justiça social, na qual, a come­çar pelos governantes do nosso país, teriam que se abster de gastos sump­tuosos e supérfluos, para assim o Es­tado ter verbas para aumentar as pensões mais baixas dos idosos e aliviá-los nos preços dos medicamen­tos.
Estamos a poucos dias do Dia Mundial da Paz, e para uma partici­pação verdadeira, (física ou espiri­tual) nesta data, seria muito impor­tante que cada um de nós, não acei­tasse a paz podre que se está a ins­talar no nosso país.
Não haverá paz enquanto não tivermos uma sociedade justa e solidária.

                                             António Mendes Pinto
                  
                      (publicado no Jornal Praça Pública em Dez. 2007)