No dia 26 de Junho fui ouvir, na Feira do Livro, uma parte do debate proporcionado pelo lançamento de dois livros da autoria de dois escritores de Ovar. Nesse debate foi colocada a pesada e problemática questão da relação entre a escola, o aluno, a família e a sociedade, no complexo e degradado mundo em que vivemos.
O que me chamou a atenção foi uma explicação dada por um dos oradores e autor de um dos livros, em que ele pareceu culpabilizar os pais pela postura dos filhos na escola.
Para que se fizesse justiça, a professora Esmeralda Souto interveio em defesa dos pais que, muitos deles, porque têm necessidade de estarem os dois a trabalhar fora de casa contribuindo assim para o bem-estar e futuro dos seus filhos, não podem dar-lhes o desejado acompanhamento.
Para responder um pouco à intervenção de Esmeralda Souto, que na minha opinião, foi muito justa, sensata e oportuna, o escritor citou um exemplo de má educação, por parte dos pais, como seja, a satisfação dos caprichos e vontades dos filhos, lembrando, como mau exemplo, a compra de telemóveis dos últimos modelos de topo de gama. Mas será assim que se poderá analisar e encontrar soluções para a problemática da escola e da família? Serão assim tantos os pais que podem satisfazer esses caprichos e vontades?
Na minha opinião não importa tanto procurar responsabilizar a escola ou a família, mas sim responsabilizar também os alunos, entre os quais muitos, precocemente, se auto proclama autónomos e independentes, ou seja, já não aceitam a educação dos pais e têm uma postura idêntica na escola. Em muitos casos, encontram alguns professores que cultivam o culto da autonomia e da independência precoce.
Será que não é possível debater esta problemática sem se "malhar" nos pais, como bodes expiatórios, como aconteceu na Feira do Livro de Ovar?!
António Mendes Pinto
(Publicado no Jornal Praça Pública em 2005)