segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Falar claro… do 25 de Abril de 1974 - 2005

Falar claro nesta célebre data do 25 deAbril /74 é o que me proponho fazer, porque, apesar de variados condicionalismos, ainda me sinto livre. E a liberdade é o que nos resta!
Já lá vão 31 anos. E para o desenvolvimento, progresso e bem­estar dos políticos, já são 17 governos e outras tantas legislaturas parlamentares que o país teve.
Falar claro do 25 de AbriV74 é dizer que foi um golpe militar acontecido para pôr termo à guerra do Ultramar e por outras razões que só aos protagonistas compete explicar. E é constar que não se tratou de uma revolução, porque, se se tal se tivesse tratado, as coisas já estariam politicamente pré organizadas pelos políticos da oposição. (Se tivesse havido uma revolução organizada, talvez não se tivesse caído em sucessivas crises políticas que originaram os números já citados. E talvez não se tivesse caído no descalabro da descapi­talização das empresas industriais, seguida de apoios com subsídios, a fundo perdido, àquelas empresas que gozavam de influências polí­ticas, desprezando as que não eram abrangidas por este tipo de loby.)
Falar claro é dizer que no decorrer dos primeiros anos após do 25 de AbriV74, com a melhoria de vida da classe média, se instalou na sociedade portuguesa o espírito do egoísmo, da vaidade e do snobismo.
Falar claro, passados estes 31 anos, é chegar a esta conclusão:
o Estado Português tem um elevado e incomportável encargo com as reformas da dita classe média; tem um elevado encargo com as remunerações chorudas de Presidentes, Administradores e Assessores de cargos públicos (organizações ou institutos), encargo esse que tem de ser suportado pelas contribuições e impostos de todos os cidadãos; tem um elevado número de desempregados, uns a auferir do Fundo de Desemprego e outros não; tem uma elevada quebra nas contribuições e descontos para as Finanças e Segurança Social; e tem um elevado aumento da pobreza.
Falar claro é dizer, bem alto, sem medos, que a situação actual nada tem a ver com as expectativas criadas há 31 anos atrás, e que, democraticamente, os políticos têm beneficiado muito o grande capital, em detrimento do pequeno.
Falar claro, nesta altura em que se festeja o 25 de Abril174, é dizer, mais uma vez: basta de enganar o povo e de culpar o mesmo por tudo o que acontece.
Falar claro, nesta importante efeméride, é dizer, em jeito de apelo aos políticos deste país: dêem, finalmente um espírito revolucionário, "no justo e bom sentido", ao 25 de Abril 1974.

                                                                         António Mendes Pinto

                                                     (publicado no Jornal João Semana em 2005)