segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O mal e a arrogância - 2004

Várias lições se podem tirar dos resultados das últimas eleições e há lições para variados "gostos" políticos. Como cidadão que neste acto eleitoral esteve quase para não cumprir o seu dever de votar, por não acreditar nos sistemas políticos que têm governado este nosso país, "no qual, o patriotismo apenas gira em torno do futebol", atrevo-me a adiantar uma razão/hipótese para tanta abstenção: o mal e a arrogância demonstrada na maneira de ser e agir dos políticos!
     Para contrapor a insensibilidade social dos políticos perdedores nestas eleições, aqui ficam algumas reflexões: ''A humanidade jamais alcançou entender-se com a presença do mal. O mal sob qualquer aspecto. Muitas vezes, a dor física (doenças, acidentes ou deficiências corporais) não deixa olhar as outras formas de sofrimento. Mas estas são bem palpáveis. A dor causada por um pontapé... passa depressa; a mágoa de o ter levado, essa pode durar a vida inteira. Quem o não sabe? E quantas podiam ser evitadas! Mas em vez disso são tantos os males e sofrimentos que se cultivam. Ai de nós, tão depressa somos aquele que está mergulhado no sofrimento como somos aquele que faz sofrer os outros. Há um estranho pendor, bem fundo e vincado, na maneira de ser dos homens, e no geral da criação, que nos puxa para o mal. E até com um secreto prazer interior..."
     Voltando à questão do descrédito da classe política que origina a elevada abstenção, termino com estas interrogações:
     Será que este Governo aprendeu a lição e vai mudar de rumo?
     Será que vão desistir do exagerado investimento para-militar e passar a investir mais no social?
     Será que vão desistir das exorbitantes e escandalosas remunerações dos gestores públicos?
     Será que vão deixar a arrogância, para que o mal e o sofrimento sejam reduzidos?
     Será que vão dar atenção ao sector produtivo recriando a lógica de que a riqueza de um país passa pela produção?
     Será que vão deixar de avaliar as pessoas a partir dos títulos; da conta no banco e do sucesso profissional?
     Será que vão contribuir para derrubar os "muros" que dividem o mundo entre a pobreza e a riqueza que continua a alimentar guerras?
                                                                        

                                                    António Mendes Pinto

                          (publicado no Jornal PRAÇA PÚBLICA em 2004)