Na celebração do 34° aniversário da Revolução dos Cravos, permanecem instalados no cidadão comum a desilusão, o desencanto e a desconfiança nos Partidos Políticos (em especial nos que têm sido eleitos governantes), o que tem sido comprovado pelo resultado nos actos eleitorais, em que metade da população portuguesa não tem participado, porque não acredita.
Neste aniversário parece haver uma esperança de renovação e mudança de atitudes políticas num dos Partidos que têm estado no Governo.
Se essa renovação e mudança se concretizar, talvez não se volte a proceder a políticas de injustiças e desigualdades, na concessão de créditos às pequenas empresas industriais, como aconteceu no pós 25 de Abri1/74 com empresas que tinham sócios (capitalistas) bem conceituados na praça bancária, os quais, amedrontados com os excessos nas reivindicações dos sindicatos" - excessos estes bem aproveitados por todos os quadrantes políticos, o que, na época resultou numa galopante inflação, e que hoje se transformou num pesado encargo financeiro para o Estado e em prejuízo para os mais desfavorecidos -, resolveram (esses sócios capitalistas) sair da sociedade das empresas, deixando os restantes sócios (profissionais mas não capitalistas) impossibilitados de comercializar o produto por falta de colaboração bancária, criando-se, assim, grandes problemas com o pessoal assalariado e com a Segurança Social.
Apesar de, na época, a Banca ser nacionalizada, a prática era a de valorizar a pessoa pelo "ter" e não pelo "ser", como tem sido a prática nestes 34 anos duma Revolução que tantas expectativas e sonhos criaram no espírito de muitos cidadãos portugueses.
Com a renovação e mudança que, contra ventos e marés, o PSD parece ter vontade de concretizar, talvez os descrentes nos Partidos passem a acreditar, e assim, com um aumento de participação nos actos eleitorais, as políticas passem a ser praticadas com equidade, e o mau exemplo e a experiência negativa de avaliar as pessoas pelo ter capital, e não pelo ser pessoa com capacidade criativa e produtiva, não voltem a acontecer. Senão, vamos continuar neste marasmo e imobilismo, e os Partidos vencedores continuarão a governar o País sem que tenham um significativo apoio dos portugueses, porque o eleitorado que os elegeu é uma pequena percentagem da população.
Penso que não seriam estas as expectativas que pairavam no espírito dos mentores da Revolução dos Cravos.
António Mendes Pinto
(publicado no Jornal João Semana em 2-4-2008)