Nos últimos dias da vida de João Paulo lI, e após a sua «morte»/ ressurreição, todo o mundo se pronunciou e esteve presente.
Mas, entre esses pronunciamentos alguns são autênticos antagonismos em torno desta grande figura da humanidade que é o Santo Padre, o Papa.
Fiquei com essa impressão quando ouvi alguns políticos, "em especial portugueses", falar deste grande homem. É que, ao analisar o percurso de vida de alguns desses governantes, cuja prática política, quando estão no activo da governação do país, se tem revelado o oposto de quase tudo o que disse e escreveu João Paulo lI, que tudo fez, para que o mundo mudasse.
Na segunda metade da década de 80 e na primeira da década de 90 do século passado, acompanhando eu um Grupo de Jovens de S. João de Ovar, e por altura de aniversários, foram-me oferecidos alguns livros, entre os quais alguns sobre João Paulo lI: o primeiro, em 1988, A Solicitude Social da Igreja, oferecido pela Ilda Bastos, de S. Martinho da Gândara, do Movimento dos Convívios Fraternos; o segundo, em 1991, Diálogo com os Homens, oferecido pela Manuela Morgado e Abel Reis; o terceiro - As Reflexões para o Ano 2000, oferecido por Álvaro Reis. Já no Natal de 2004, recebi Porque Viajas Tanto? da jornalista Aura Miguel, oferecido pelo meu filho, e neste Natal a Crónica em Imagens, do Círculo de Leitores, oferecido por Maria Branca e sua filhinha Inês Duarte.
São livros, em especial os três mais antigos, que me têm ajudado muito nos meus escritos, assim como nas meditações e estudo.
Para confirmar o antagonismo dos políticos em torno de João Paulo II, transcrevo um breve extracto do citado livro - A Solicitude Social da Igreja, que é uma Carta Encíclica do Papa:
"Ao mesmo tempo, também entrou em crise a própria concepção «económica» ou «economicista», ligada à palavra desenvolvimento. Hoje, de facto, compreende-se melhor que a mera acumulação de bens e de serviços, mesmo em beneficio da maioria, não basta para realizar a felicidade humana. E, por conseguinte, também a disponibilidade dos multíplices benefícios reais, trazidos nos últimos tempos pela ciência e pela técnica, incluindo a informática, não comporta a libertação de toda e qualquer forma de escravidão. A experiência dos anos mais recentes demonstra, pelo contrário, que se toda a massa dos recursos e das potencialidades, postos à disposição do homem, não for regida por uma intenção moral e por uma orientação no sentido do verdadeiro bem do género humano, ela volta-se facilmente contra ele para o oprimir." (...) Capítulo IV, n° 28.
Acredito que, se os políticos fossem mais verdadeiros e dessem importância ao que disse e escreveu João Paulo II nestes 27 anos de Pontificado, o mundo seria bem melhor.
António Mendes Pinto
(publicado no Jornal João Semana em 2005)