Na passada noite do dia 2, vi na RTP um programa com três entrevistados ligados ao Micro Crédito (uma organização que se preocupa com as pessoas que querem montar uma micro empresa mas não têm meios financeiros).
Gostei de ouvir as intervenções dos entrevistados e fiquei com uma boa impressão deles, pois pareceram-me pessoas sérias e humanas, com espírito de solidariedade (não aquela solidariedade que se confunde com a caridade da época natalícia, mas a que proporciona e cria oportunidades a quem tem iniciativas e quer trabalhar).
Segundo o que disseram, a organização ainda só está implantada em Lisboa e no Porto, mas as intenções e perspectivas são de alargamento a outras regiões do país.
Será realidade, ou utopia? Será abrangente também às micro empresas já existentes e que são impossibilitadas de trabalhar por falta de crédito bancário?
Estou a pensar numa micro empresa implantada aqui em Ovar desde 1971, que já passou por várias fases de estrangulamento financeiro (pois o crédito bancário, quer antes do 25 de Abril/74, quer depois, sempre foi discriminatório), e que, "embora duma forma diminuta", persiste em criar e produzir. Se tivesse crédito bancário, mais produziria, e seriam mais as localidades do país que comercializavam o artigo produzido em Ovar).
Esta micro empresa tem a ver com um casal que há 33 anos, perante a insistência de familiares, se deixou convencer a mudar-se de Lisboa para Ovar.
Perante a saturante e "cansativa" versão que permanece na mente de várias pessoas (a imagem dos sem sucesso, dos coitados porque a vida não lhes corre bem), sentindo-se liberto de formas de pressão, de humilhação e de medo, agora apetece escrever de memórias de uma micro empresa
Talvez esse livro possa ser útil para os jovens de hoje, para que não sejam crédulos e imprudentes (como foi este casal quando ainda era jovem) e evitem errar nas suas decisões.
António Mendes Pinto
(publicado no Jornal JOÃO SEMANA em Dezembro de 2004)
