terça-feira, 1 de março de 2011

Inflação e especulação são factores da crise - 2008


Neste turbilhão de opiniões e comentários acerca da crise econó­mica, poucos são aqueles que vão às causas que em parte foram facto­res desta situação angustiante para uns e benéfica para outros.
Grande parte das pessoas que têm a possibilidade de intervenção pública através do uso da palavra não aproveita para denunciar as origens da crise e as injustiças dos causadores da mesma, beneficiando estes da impunidade que as leis lhes proporcionam.
O passar-se da inflação de mea­dos de 70 a meados de 80 do século passado, em que os juros atingiram os 34 por cento, que deu origem à descapitalização das pequenas em­presas e à desvalorização do escudo aquando da transição para o Euro, e depois passar-se à especulação dos bens essenciais à vida do ser huma­no, (alimentação, habitação, água, gás, electricidade e telefone), contribuiu para esta crise que agora sentimos.
Para além dos poucos políticos e comentadores que são contun­dentes a falar do tema em questão, há também Pregadores da Palavra de Deus na Igreja Católica que com coragem e frontalidade denunciam o que está mal. Lembro dois que recentemente ouvi. O primeiro foi no dia de Natal na Igreja das Carme­litas no Porto, na qual, numa homilia o sacerdote corajosamente disse que a crise foi provocada pelo egoísmo e a ganância de alguns senhores que não se preocupam com os "outros".
O segundo foi no dia da Procis­são dos Terceiros, na Pregação feita pelo Frei Paulo Ferreira, em que ele ao falar dos exemplos de Santo Ivo - Patrono dos Advogados, lembrou as injustiças nos Bancos, em que a uns lhes são dados benesses e privilé­gios e a outros lhes é tirado tudo até ao tutano!
Mantendo-se o espírito e o dom da esperança, a situação em que o país vive pode mudar para melhor, mas com um aumento de pessoas denunciadoras das injustiças.
A omissão e a falta de coragem só conduzirão ao agravamento da situação.

                                                António Mendes Pinto

                              (publicado no Jornal Praça Pública em 2008)