terça-feira, 1 de março de 2011

Será que vivemos num país livre? - 2008

Foi com muito desagrado que resolvi colocar esta interrogação como título a este artigo de opinião.
Penso que não deve haver cidadão algum, no perfeito uso das suas faculdades mentais, que se sinta totalmente livre não tendo acesso aos seus direitos cívicos, entre os quais, a habitação, o ensino escolar, o trabalho (mas não precário), a assistência à saúde e uma reforma com dignidade.
Passados 33 anos após o Golpe de Estado do 25 de Abri I de 1974, o panorama sócio-político de Portugal é, como se vê e se conhece pelos meios de Comunicação Social (em especial os que são abertos à opinião pública e sensíveis ao sofrimento das. pessoas), desolador e demonstrador de que, afmal, a acção dos chamados Capitães de Abril afmal apenas tinha como objectivo derrubar o regime em vigor. Quanto à acção baptizada como Revolução, essa na minha opinião, não existiu. É que, se tivesse existido uma Revolução com intenções de justiça social, a situação actual seria bem diferente!
Claro que, para uma certa camada da população, houve Revolução. Daí que alguns tivessem alcançado grandes privilégios, e outros tivessem conquistado poderes económicos, que outrora, para serem alcançados, exigiriam muito trabalho.
    Como resultado, o que se vê?
    Por arrasto da situação, a pobreza tem aumentado!
Passados estes 33 anos, fazem--se Roteiros de Inclusão, quando alguns dos promotores dessa iniciativa contribuíram para a prática política que tem empurrado muitos cidadãos para a exclusão.
Passados 33 anos após o citado Golpe de Estado (que parece ter tido como objectivo principal acabar com a guerra no Ultramar), Portugal faz parte da União Europeia (entrada que salvou o país da desenfreada inflação), estando integrado, por inerência, na Campanha pela Igualdade de Oportunidades, quando, no nosso País, a política que se tem praticado nestas três décadas é de desigualdade de oportunidades.
Passados estes 33 anos, quem ouve os programas de opinião pública na Rádio e na Televisão analisa que os políticos estão cada vez mais desacreditados e que aumenta o sentimento de revolta e de saudosismo do passado. (Daí que a figura do Estadista Dr. António Oliveira Sal azar tenha ficado em primeiro lugar no concurso promovido pela RTP.)
Quando será que os políticos se consciencializam de que têm andado errados e de que têm de fazer política a pensar mais nos outros e menos neles?
Se a já citada figura política ficou em primeiro lugar, uma das razões da escolha foi o seu exemplo de não fazer fortuna pessoal à custa do cargo que exerceu.
E se a figura política que ficou em segundo lugar foi o Dr. Álvaro Cunhal, é porque as pessoas admiram os políticos com "ideais e convicções". E quer o primeiro quer o segundo, embora com pensamentos diferentes, eram políticos com a citada virtude. E é esta virtude que faz falta a muitos dos conhecidos políticos do nosso país!

                                                António Mendes Pinto

                          (publicado no Jornal João Semana em 2008)