sábado, 26 de março de 2011

Uma prova de amizade e de bairrismo - 2005

No ano passado (2004), foi publicado neste Semanário um pequeno texto acompanhado com uma foto de uma Equipa de Futebol de Salão que participou, em 1976, num Torneio amador, envergando as camisolas Mar e Sol, uma pequena empresa industrial que existiu aqui em Ovar entre 1971 a 1989.
Quando escrevi o texto no ano passado, imaginei uma boa recepção por parte dos amigos que fizeram parte da equipa, presumindo que iriam gostar. Mas não pensei que viesse obter um resultado tão feliz, como foi a iniciativa de promoverem um jantar convívio, no passado dia 13 de Maio, no lugar da Ribeira, na Adega - Restaurante do Centro Columbófilo.
Como disse num breve discurso, a formação daquela equipa em 1976 e, agora, a iniciativa de promoverem este jantar, foram acontecimentos marcantes na minha vida, os quais lhes agradeço, não deixando também de agradecer a Deus, pois é Ele que toca os corações dos homens para que tenham bonitos gestos como este de, passados quase 30 anos, se juntar um grupo de amigos para recordarem as peripécias ligadas àquela actividade desportiva.
É que a vida não pode nem deve ser vivida com excesso de más recordações... Nem haveria ser humano que resistisse!
Viver e recordar as coisas boas que nos acontecem ao longo da nossa vida é como encher os pulmões com ar puro. (Comparo o ar puro com a amizade.)
Como já tenho citado em escritos nos Jornais, a lógica de avaliar a pessoa pelo Ter e não pelo Ser é a que mais tem prevalecido. E essa lógica tem levado ao insucesso muitos cidadãos empreendedores e trabalhadores.
A tendência da nossa civilização materialista do pós/25 de Abril 1974 é a de admirar as pessoas de sucesso. Mas estes meus amigos mostraram que, para eles, não é o sucesso que mais conta, mas sim a amizade e o bairrismo, e que não é o insucesso que os impede de práticas e gestos nobres como foi o de terem promovido este jantar convívio, ao qual se associaram mais dois amigos.
Pela mão de um dos atletas da equipa - o Victor Manuel Oliveira foi-me oferecida uma salva de prata com o meu nome e a data do jantar gravados. Foi mais um gesto surpreendente, pois sinto que nada fiz para o merecer.
Entre as 20h30 e as 24h00 horas, recordaram-se peripécias passadas há quase 30 anos, e contaram-se histórias reais daquele tempo, algumas delas hilariantes (pela forma como eram contadas), pois que na equipa há elementos com talento e graça para contar histórias capazes de provocar sucessivas gargalhadas. Posso mesmo dizer que há mais de uma década que não me ria tanto!
A Equipa tinha os seus delegados, e neste jantar o Victor Manuel Oliveira lembrou um deles, que já não se encontra entre nós nesta vida terrena, o seu primo José Eduardo Oliveira, o conhecido e saudoso Presidente da Ovarense, que foi vítima de um violento e mortal acidente de viação. Já naquela época se via no José Eduardo o gosto pela actividade desportiva.
Como disse no final do discurso deste jantar, naqueles momentos senti-me um homem rico. Rico não da riqueza que tantos ambicionam e que em algumas pessoas provoca o snobismo, mas de uma riqueza espiritual que advém da amizade demonstrada por este grupo.
Disse riqueza espiritual, porque vejo Deus nas coisas boas que nos acontecem. E este jantar foi, na verdade, um gesto bonito e uma coisa boa que aconteceu.

                                                        António Mendes Pinto

                                 (Publicado no Jornal João Semana em 2005)